domingo, 3 de abril de 2011

IMAGEM DESCONCERTANTE



-Que imagem extraordinária. A minha primeira reação foi essa ao ver a foto do nosso planeta Terra, produzida por pesquisadores da ESA (Agência Espacial Europeia) utilizando dados do satélite Goce , apresentada durante um encontro de astrônomos anteontem em Munique, Alemanha.
Parece uma escultura contemporânea, ousada, incrível. Foge dos padrões de todas as imagens da Terra que vimos até hoje. Os cientistas , logo após a exibição , foram logo dizendo que não é a Terra como ela é, mas como os olhos humanos a enxergariam se pudessem perceber as nuances da força gravitacional numa escala bastante ampliada.
A função dessa foto, e de outras tiradas, é propiciar o estudo dos terremotos e de diversos fenômenos da natureza para explicá-los melhor e, talvez, futuramente, prevê-los, antecipando a saída das populações dos locais que serão atingidos.
Na imprensa saiu que a Terra apresentada tem forma de batata. Discordo. Primeiro porque não dá para reduzir as batatas a uma única forma. Você já se deteve em um varejão na banca de batatas? Na verdade, há vários tipos e os mais variados formatos.
E a imagem da Terra apresentada, com todas as imperfeições e cores: vermelha, azul e amarela, torna-se mais incrível e mais enigmática.
Esse conceito de perfeição que trazemos na cabeça desde crianças foi incutido em nós de uma maneira muito artificial. O que é perfeição? Uma imagem totalmente linear, sem irregularidades e formas surpreendentes? Quem encara o conceito de perfeição assim não vai admirar as telas do maior pintor do século XX e um dos maiores artistas de todos os tempos, que é Pablo Picasso.
A arte moderna e contemporânea nos convoca a encarar a perfeição a partir de novas sinapses que ocorrem no nosso cérebro quando estamos diante de uma tela dos grandes pintores e escultores modernos e contemporâneos. Como contemplar com uma visão limitada de arte as esculturas de Anish Kapoor ou de Ron Mueck, que esculpe figuras humanas gigantescas e que nos surpreende pelas suas escalas que fogem totalmente ao padrão?
A Terra “vista” pela força gravitacional é uma imagem que nos prepara para muitas outras imagens do universo que ainda nos serão mostradas e nos abrirão caminhos para novos olhares, novas reflexões e novas viagens com a nossa mente sedenta de novidades.
Você já reparou que o nosso cérebro detesta imagens entediantes que se repetem? Há quem fique várias horas assistindo na televisão a programas sem nada de novo em conteúdo e mesmo na forma, nas imagens que aparecem. Mas isso, aos poucos, vai provocando um adormecimento mental. Já quando variamos, vemos novas paisagens, telas que nos provocam, algo de diferente acontece dentro de nós. É importante prestar atenção nas transformações que se operam na nossa mente quando fugimos dos clichês, do comum , daquilo que não nos acrescenta praticamente nada.

Crônica de Jaime Leitão publicada no Jornal Cidade e no Jornal de Piracicaba no dia 2-4-2011.

Propostas:

1-Escreva uma crônica a partir da imagem do planeta Terra veiculada na semana passada e que está acima.

2-Escreva uma narrativa em que um ser de outro planeta e chega à Terra e gosta em especial de algo que para nós não tem quase nenhuma importância.

3-Escreva uma dissertação a partir da crônica acima, relacionando a imagem da Terra com a arte contemporânea.

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